segunda-feira, 7 de novembro de 2011

GORDINHO, GORDO



Paulistano de 27 anos conta como deixou para trás 81 kg e uma vida sedentária após se submeter a uma cirurgia de redução de estômago e virar o cotidiano do avesso com a ajuda do esporte; agora, ele se prepara para sua primeira prova tripla, de corrida, ciclismo e natação

RESUMO
O gerente de recursos humanos Wellington Costa Landin, 27, chegou a pesar 152 kg, com 1,73 m de altura. O paulistano fez cirurgia de redução de estômago, perdeu peso, mas voltou a engordar, depois de se mudar para Estância Velha, no Rio Grande do Sul, com a namorada. Eles se conheceram em uma sala de bate-papo para gordinhos na internet. Landim conta que só abandonou seus velhos hábitos ao começar a correr. Ele quer se formar em educação física e trabalhar com obesos.

(...) Depoimento a

RODOLFO LUCENA
COLUNISTA DA FOLHA

Eu era o gordinho legal. Com 13 anos e 1,65 m de altura, já pesava mais de 90 kg, sempre sedentário, não estava nem aí para a saúde.
Com 17 anos, só queria aquela bebidinha, um cigarrinho, e a balança já estava nos 120 kg.
Os problemas aumentaram: dificuldade para subir em um ônibus ou descer uma escada, além de começar a perceber o valor que as pessoas dão à estética.
Passei a fumar para valer, tive problemas de circulação, diabetes, mas o pior foi a depressão: comecei a não mais me aceitar como eu era e a me revoltar por não conseguir emagrecer.

OPERAÇÃO
Em 2008, aos 24 anos, cheguei a pesar 152 kg, o ápice da obesidade, passando o IMC [Índice de Massa Corporal] de 50 (minha altura é de 1,73 m).
Fui procurar ajuda no Hospital das Clínicas de São Paulo. Fiz um ano de preparação psicológica e acompanhamento até que, em novembro de 2009, fui autorizado a passar por uma cirurgia de redução de estômago -tinha conseguido baixar o peso para 133 kg.
Acabei ficando internado por quase três meses, por complicações na cirurgia. Mesmo quando saí do hospital, ainda fiquei com uma sonda gástrica por mais 60 dias, para alimentação. Só me alimentava via sonda....
Perdi um peso considerável, cheguei perto dos 80 kg, e consegui voltar a trabalhar.
Mas continuava fumante e sedentário, mesmo sendo funcionário de uma academia de ginástica.
Operei o estômago, mas a cabeça continuava de obeso.

MESA FARTA
O que mudou minha vida foi uma pessoa que conheci pela internet, quando eu ainda me recuperava da cirurgia, mas já tinha saído do hospital. Eu conversava pela internet com pessoas que tinham o mesmo problema de peso que eu, procurava esclarecer dúvidas sobre a cirurgia de redução de estômago e, um belo dia, encontrei a Sílvia em uma sala de bate-papo para gordinhos.
Começamos a namorar à distância, pois ela é do Rio Grande do Sul. A gente se encontrava uma vez por mês, até que decidimos pela minha mudança para o Sul.
Vim de mala e cuia para Estância Velha, uma cidadezinha linda no pé da serra, com um baita frio e comida farta, muito farta.
Cheguei aqui depois de um ano e três meses da cirurgia, já tinha perdido mais de 70 kg. Mas com cinco meses no novo regime, engordei 10 kg fácil, fácil. Cheguei aqui com 78 kg e logo estava com 86 kg. Naquele andar da carruagem, logo estaria beirando os 100 kg novamente.
Comecei então a caminhar para tentar controlar o peso. Fazia tudo a pé. Resolvi dar pequenos trotes e em dois meses estava correndo 5 km. Fiquei maravilhado.
Virei amante e viciado em endorfina assim como todos que habitam esse mundo que me parecia tão distante! Para falar a verdade, não sei como demorei 26 anos e alguns meses da minha vida para descobrir algo tão maravilhoso, prazeroso e saudável.

VIDA DE ATLETA
A corrida me traz uma satisfação enorme: menos de um ano após minhas primeiras caminhadas, estou correndo os 10 km em 39 minutos, o que é uma marca boa para um amador iniciante como eu -é o que me dizem.
Hoje treino sozinho, fazendo de 50 km a 60 km por semana. Também comecei a pedalar forte e estou fazendo uma média de 250 km a 300 km por semana. Participo de provas de duatlo -corrida e bicicleta-e, no ano que vem, quero fazer meu primeiro meio Ironman [1.900 m de natação, 90 km de bicicleta, 21,1 km de corrida].
Estou fazendo um trabalho nutricional e acompanhamento fisioterápico, pois meu "chassi" depois de tanto tempo já não é mais o mesmo.
Faço acompanhamento médico quase mensal e sei que ainda vou ter de passar por outra cirurgia para tirar o excesso de pele -nos meus 71 kg de hoje, pelo menos uns dois são de pelanca.
Essa vida de atleta amador é muito nova para mim. As conquistas me dão ânimo e motivos para querer melhorar cada dia mais na vida, não só como um corredor, mas como ser humano.
Já decidi que, assim que me formar em recursos humanos, começo a fazer educação física, e meu foco vai ser trabalhar com pessoas com obesidade.

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