quarta-feira, 9 de novembro de 2011
Como congestionamentos podem afetar a saúde mental
Por Robert Lee Hotz The Wall Street Journal
Cidades congestionadas estão se tornando tubos de ensaio para cientistas estudarem o impacto da poluição do trânsito sobre o cérebro humano.
Quando as rodovias se estrangulam com o trânsito, pesquisadores suspeitam que o escapamento dos carros e caminhões - especialmente as pequenas partículas de carbono já relacionadas a doenças do coração e respiratórias, e ao câncer - podem também danificar as células cerebrais e as sinapses que são elementos-chave para o conhecimento e a memória.
Novos estudos de saúde pública e experiências de laboratório sugerem que, em cada estágio da vida, a fumaça do trânsito tem um efeito mensurável na capacidade mental, inteligência e estabilidade emocional. "Mais e mais cientistas estão tentando descobrir se e por que a exposição à poluição do escapamento do carro pode danificar o cérebro humano", diz o médico epidemiologista Jiu-Chiuan Chen, da Universidade do Sul da Califórnia, que está analizando os efeitos da poluição do trânsito sobre a saúde cerebral de 7.500 mulheres em 22 Estados americanos. "As informações sobre efeitos nos humanos são muito recentes."
Até aqui, a evidência é basicamente circunstancial mas preocupante, dizem os pesquisadores. E ninguém tem certeza ainda das consequências para biologia do cérebro ou comportamento. "Existe motivo real para preocupação", diz a neuroquímica Annette Kirshner, do Instituto Nacional de Ciências da Saúde Ambiental da RTP, uma organização de pesquisa científica na Carolina do Norte. "Mas nós devemos proceder com cautela".
Carros e caminhões produzem hoje um décimo da poluição de um veículo de 1970. Ainda assim, mais pessoas estão nas ruas e elas estão frequentemente paradas no trânsito. Nos dez piores corredores de trânsito dos Estados Unidos, motoristas dirigindo passam, em média, 140 horas por ano, quase o mesmo que passam no trabalho em um mês, segundo uma nova pesquisa.
Ninguém sabe se as pessoas que fazem a viagem diária do trabalho para casa respirando a fumaça pesada do trânsito sofrem algum efeito permanente sobre o funcionamento cerebral. Pesquisadores tem estudado apenas o potencial impacto com base no local onde a pessoa mora e onde os níveis de poluição do ar são mais altos. Mesmo se existisse algum efeito cognitivo crônico nos motoristas, ele poderia ser muito pequeno para uma medida confiável ou poderia ser subestimado por outros fatores de saúde como estresse, dieta ou prática de exercício físico que afetam o cérebro, dizem especialistas.
Estudos recentes mostram que respirar o nível de fumaça de uma rua por apenas 30 minutos pode intensificar a atividade elétrica em regiões do cérebro responsáveis pelo comportamento, personalidade e tomada de decisão, mudanças que são sugestivas de estresse, cientistas na Holanda descobriram recentemente. Respirar o ar normal da cidade com alto nível de poluição de trânsito por 90 dias pode mudar a maneira como os genes se ativam e desativam entre os mais velhos; também pode deixar uma marca molecular no genoma de um recém-nascido para o resto da vida, reportaram pesquisas feitas por pesquisadores das universidades Columbia e Harvard.
Crianças em áreas afetadas por altos níveis de emissões de poluentes tiveram, em média, desempenhos muito baixos em teste de inteligência e eram mais predispostas a depressão, ansiedade e problemas de atenção que crianças que cresceram em áreas de ar mais limpo, atestaram pesquisadores de diferentes grupos em Nova York, Boston, Pequim e Cracóvia, na Polônia. E homens e mulheres mais velhos com longa exposição a níveis mais elevados de partículas relacionadas ao trânsito e ozônio tiveram problemas de memória e racionínio que efetivamente acrescentaram mais cinco anos a sua idade mental, constaram este ano outros pesquisadores universitários em Boston. As emissões de poluentes podem elevar o risco de mal de Alzheimer e acelerar os efeitos da doença de Parkinson.
"As evidências de que a poluição do ar pode afetar o cérebro estão crescendo", diz a médica epidemiologista Heather Volk, da Faculdade de Medicina Keck, da Universidade do Sul da Califórnia. "Nós estamos começando a perceber que os efeitos podem ser mais extensos do que achávamos".
Revisando registros de nascimento, Volk e seus colegas calcularam que crianças nascidas de mães que moram num raio de 300 metros de uma grande rodovia em Los Angeles, San Francisco ou Sacramento - grandes cidades da Califórnia - eram duas vezes mais propensas a ter autismo, independentemente de gênero, etnicidade, nível educacional, idade da mãe, exposição a cigarro e outros fatores. As descobertas foram publicadas neste ano na publicação científica "Environmental Health Perspectives".
"Baseado em nossa informação, o ar poluído pode ser um fator de risco para autismo", diz Volk. Mas, existem tantas possibilidades genéticas e influências ambientais que "é muito cedo para alarme", diz ela.
A fumaça dos carros pode ir muito mais longe do que se pensava. A poluição de uma grande rodovia de Los Angeles alcançou quase 2,5 quilômetros a favor do vento - 10 vezes mais do que se imaginava antes.
Cientistas acreditam que medidas simples para acelerar o trânsito são um fator para redução de problemas de saúde pública. Em New Jersey, partos prematuros, um fator de risco para problemas cognitivos, em áreas em torno de rodovias caíram 10,8% depois da introdução de um sistema tipo expresso, que facilitou o tráfego e reduziu a poluição de automóveis, de acordo com estudos publicados em revistas científicas este ano e em 2009.
Depois que as autoridades de tráfego de Nova York redicionaram recentemente o fluxo no Times Square, centro da cidade, para reduzir o congestionamento, os níveis de poluição do ar nas áreas próximas caíram 63%.
Cientistas estão apenas começando a entender a biologia básica do efeito neurológico das toxinas do escapamento do carro, especialmente da exposição no prenatal e ao longo da vida. "É difícil desembaraçar todas as coisas do escapamento do automóvel e separar os efeitos do trânsito de todas as outras possibilidades", diz Currie, que estuda a relação entre o trânsito e a saúde infantil.
Pesquisadores em Los Angeles, a cidade mais congestionada dos EUA, estão estudando ratos que cresceram no laboratório respirando ar de uma rodovia próxima. Eles descobriram que as partículas inaladas pelos ratos - cada partícula menor que um milésimo da largura de um cabelo humano - de alguma forma afetam o cérebro, causando inflamação e alterando a química entre os neurônios envolvidos na capacidade de aprendizado e na memória.
Inspeção em veículos a diesel reduz mortes em São Paulo, afirma estudo da USP
A inspeção ambiental nos veículos a diesel foi responsável por evitar a morte de 252 pessoas na cidade de São Paulo em 2010, de acordo com estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) apresentado no dia 18. A pesquisa aponta também que foram evitadas 298 internações por problemas provocados pela poluição – no caso do diesel, principalmente de material particulado. A impureza do ar agrava doenças como asma e pneumonia.
“É como se a gente fumasse um pouco sem querer, cerca de dois ou três cigarros. Não é muito em comparação ao fumante, mas afeta bebês, gestantes, asmáticos”, explicou à Folha.com o médico Paulo Saldiva, coordenador do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da USP. Segundo o especialista, cerca de quatro mil pessoas morrem todos os anos em consequência da poluição do ar em São Paulo, mais do que os óbitos registrados em razão da aids e da tuberculose somados.
O relatório considerou cálculos do consultor Gabriel Branco, com base nos dados da inspeção em 2010. Os 121 mil veículos a diesel inspecionados foram responsáveis por reduzir uma quantidade de material particulado que seria produzida por 20 mil veículos. “Ou seja, é como se a inspeção tivesse ‘retirado’ da frota da cidade 20 mil veículos”, comparou Branco.
Os veículos a diesel produzem 40% do material particulado na atmosfera. Segundo especialistas, a tecnologia do diesel no Brasil é atrasada, pois um ônibus daqui polui até 15 vezes mais que os da Europa e Estados Unidos. O estudo da USP aponta que, caso toda a frota a diesel esperada pela inspeção se submetesse ao teste (240 mil veículos), teriam sido evitadas 498 mortes e 588 internações no ano passado.
“Quando o médico tem um paciente com sobrepeso, ele recomenda uma dieta. Mas, nessa área, a saúde não tem o que fazer. Você não pode recomendar para ninguém que tenha ar engarrafado, que fuja da cidade. O remédio está nas mãos de outras secretarias”, observou Saldiva.
No bolso
O estudo da USP aponta ainda que, com a redução das internações, a inspeção economizou ao sistema de saúde público e particular US$ 987,4 mil (R$ 1,6 milhão). Caso toda a frota fosse inspecionada, seriam economizados US$ 1,9 milhão (R$ 3 milhões). Para Saldiva, “é mais fácil você sensibilizar as pessoas por dinheiro do que por fila de hospital”.
“O gestor tem que ter esta informação, porque ele sabe quanto custa mudar, mas não sabe quanto custa manter”, Paulo Saldiva.
De acordo com Saldiva, o próximo estudo a ser realizado será o do impacto da inspeção nos automóveis e motos, que emitem monóxido de carbono e hidrocarbonetos.
* Publicado originalmente no site EcoD.
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