sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O difícil problema da saúde



Por Alberto Carlos Almeida  - Valor 27/01
Para o Valor, de São Paulo

Afirmar que a solução para a saúde pública é difícil é um eufemismo. O mais provável é que não haja solução alguma e que se trate, simplesmente, de um problema impossível de ser resolvido.
A questão mais importante é saber que problema é esse. É preciso, antes de mais nada, definir o que está ruim e que, portanto, precisa de uma solução. Para que fique claro: o principal problema do Sistema Único de Saúde é o tempo de espera para marcar consultas e exames. Esse tempo nada tem a ver com o tempo em sala de espera, mas sim com a distância que separa o dia em que um cidadão procura o serviço de saúde para marcar uma consulta e o dia em que a consulta ocorre. Muitos leitores não devem saber, mas é comum que, em todos os lugares do Brasil, se espere três meses ou mais para que ocorra a consulta. Os usuários do sistema privado esperam uma, duas, talvez três semanas para uma consulta médica, ao passo que os usuários do SUS dificilmente são recebidos pelo médico antes de 90 dias.
A via crucis se repete na etapa seguinte, a do exame. Mais uma vez, o tempo de espera é inacreditavelmente longo. Falar em três meses de espera para cada uma dessas etapas é, com frequência, generosidade. Já fui testemunha ocular em uma visita que fiz a um município no entorno do Distrito Federal onde o tempo de espera para uma consulta com o cardiologista ou oftalmologista era de 9 a 12 meses. Imagine-se uma pessoa com um problema tão simples como a vista cansada aguardar um ano para que um médico a receba e só então ter a perspectiva de passar a utilizar óculos. Isso é nada diante das pessoas que morrem porque não foram recebidas por cardiologistas. Essas pessoas entrarão na estatística de morte por AVC ou ataque cardíaco sem que jamais se tenha notícia de que a morte provavelmente teria sido evitada se a consulta médica, e os exames, tivessem sido realizados na mesma velocidade em que são feitos no setor privado.

Como essa espera, para o doente, é equivalente à eternidade, ele acaba indo para um hospital e é recebido, de pé, por um médico que em cinco minutos mede a pressão, tira a pulsação e receita algum medicamento. Muitos de nós conhecemos inúmeras pessoas que passaram por isso. Tempos atrás, nossa empregada doméstica recebeu uma receita de remédio de pressão, quando estava, veio saber depois, com infecção urinária. Os hospitais estão superlotados porque cumprem o papel de substituir a consulta e o exame regular. No final das contas, não acontece nem uma coisa nem outra, mas o doente é, de alguma maneira, atendido.

No debate público sobre a crise da saúde pública aparecem sempre duas soluções. Uma é colocar mais recursos. Isso acabou de acontecer por meio da regulamentação da emenda 29. Ou se fala em melhorar a gestão. Não creio que solução esteja em nenhuma dessas duas medidas.

O aumento de recursos tem limites claros. O Brasil já desfruta de uma das maiores cargas tributárias do mundo, sob qualquer parâmetro de comparação: é a maior dentre os países emergentes, é das maiores na comparação com os desenvolvidos, na América Latina etc. Além da impossibilidade de se aumentar indefinidamente a carga tributária, a saúde pode ser o problema mais importante, mas não é o único. Os recursos do governo precisam ser direcionados para outros problemas, como educação, infraestrutura, política social, previdência etc. Sob qualquer prisma, sob uma análise mais cuidadosa ou mais geral, é muito difícil sustentar que a solução do tempo de espera para consultas e exames esteja no aumento dos recursos direcionados para a saúde.

Melhorar a gestão também não parece ser a solução. O problema do atendimento público da saúde está muito na ponta: ocorre na relação existente entre os médicos e seu trabalho, entre os médicos e seus potenciais pacientes. Nada tem a ver com compra de equipamentos, compra de material hospitalar, coisas assim. O médico precisa se dedicar ao trabalho e, caso isso não ocorra, ele precisa ser punido. É aí que entra o velho e conhecido problema do agente e do principal: ninguém é dono do SUS, ninguém manda nos médicos, eles são o agente, mas não há o chefe, não há o principal que os faça atender a população. A mídia e a população já conhecem o jogo de empurra: os médicos afirmam que são mal pagos e que não têm recursos para trabalhar, os prefeitos e governadores admitem, mas obviamente não dizem em público, que os médicos faltam sistematicamente ao trabalho e nada podem fazer contra isso. Não há gestão que resolva isso, é um típico problema de agente-principal.

O Reino Unido, anglo-saxão, orgulha-se de seu National Health System (NHS). É o SUS do país que acabamos de ultrapassar no PIB bruto. Os anglo-saxões, todos sabemos, são muito diferentes de nós, culturalmente. Trata-se de uma população cuja adesão às regras é infinitamente maior do que a nossa. A implicação disso para o mundo dos serviços é fenomenal: há um dever a ser cumprido. É por isso que, em função de diferenças culturais, devemos esperar que o funcionamento do serviço universal de saúde pública naquele país seja mais eficiente do que no nosso. Mantidas constantes todas as demais variáveis, ser criado em uma cultura voltada para os serviços possibilita uma melhor oferta de serviços. É simples.

No final dos anos 1990, quando o Reino Unido ainda estava longe de produzir menos riqueza do que o Brasil, um levantamento criterioso do NHS concluiu que 90% das pacientes diagnosticadas com a versão grave de câncer do seio tinham que esperar 62 dias para iniciar o tratamento. Para casos graves de câncer do colo, a espera era de 95 dias; para câncer do pulmão, 91 dias; para o cervical, 123 dias; para o de próstata, 143 dias. No Brasil, não existe nenhuma estatística sobre o tempo médio de espera para consultas e exames, muito menos para 90% dos pacientes graves por tipos de câncer.
O que o caso britânico revela, dentre outras coisas, é o problema do agente-principal. Não há controle possível sobre os médicos; o problema é na ponta, é no tempo de espera. Adicionalmente, não há recursos financeiros infinitos. Atualmente, o NHS passa por uma crise sem precedentes, com perspectivas de fechamento de hospitais e medidas do gênero. No Reino Unido, atribui-se isso ao envelhecimento da população e ao surgimento de exames e procedimentos médicos mais custosos. Pode ser. Na realidade, não importa. O sistema público, quando se trata de recursos financeiros, funciona como uma esponja: quanto mais há, mais ele demanda; quanto mais recebe, mais exige. A emenda 29 e sua regulamentação são apenas um sintoma dessa lógica sem fim.
Há solução para esse problema e estamos todos diante dela. A solução, no Brasil, está em andamento. A pesquisa Conta-Satélite de Saúde, do IBGE acabou de mostrar que o gasto privado per capita com saúde é maior do que seu equivalente público em nada menos do que 29%. O governo gasta 645 reais por brasileiro com saúde, ao passo que o gasto médio de cada brasileiro com saúde é de 835 reais. Aí está a solução para o desrespeito, para a espera interminável, para as mortes e a morbidade na fila: os brasileiros vão cada vez mais financiar privadamente seu atendimento de saúde.

Por favor, não esperemos por planos de um demiurgo, novas regulamentações ou pactos sociais em torno do tema. A solução é individual e privada. A solução é incremental, de longo prazo e aparentemente desorganizada. Na medida em que aumentar a renda per capita, as pessoas vão gastar mais com saúde e se livrarão do atendimento público. Trata-se de um desfecho tão inevitável quanto ultrapassar o PIB bruto da França e o PIB per capita do Reino Unido. È apenas uma questão e tempo.

Não há recursos públicos ou eficiência em gestão que resolva o caos do SUS ou do NHS. A solução será fornecida pelos indivíduos, pelos agentes privados que, afortunadamente, graças ao aumento de sua renda, poderão pagar por seus próprios cuidados com saúde. Caberá ao SUS um papel reduzido, de atendimento àqueles que realmente não terão condições de pagar por nada que seja além de alguns atendimentos como emergência, serviços de ambulância e vacinação. Até atingirmos esse estágio, teremos que conviver com a promessa permanente de que há solução para o atendimento público de saúde. Esqueçam. É impossível. O melhor, para quem não acredita em mágica, é que essa promessa entre por um ouvido e saia por outro.

Alberto Carlos Almeida, sociólogo e professor universitário, é autor de "A Cabeça do Brasileiro" e "O Dedo na Ferida: Menos Imposto, Mais Consumo". E-mail: Alberto.almeida@institutoanalise.com www.twitter.com/albertocalmeida

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

UMA TABELA PARA TER À MÃO


Colaboração JBDELA

Maçã Protege o seu coração Evita constipação Bloqueia a diarreia Melhora capacidade dos pulmões Amortece as articulações


Damasco Previne o câncer Controla a pressão arterial Protege a sua visão Protege contra a doença de Alzheimer Retarda o envelhecimento

Alcachofra Ajuda na digestão Baixa o colesterol Protege o seu coração Estabiliza o açúcar no sangue Protege contra doenças do fígado

Abacate Combate as diabetes Baixa o colesterol Previne as tromboses AVC Controla pressão arterial Suaviza a pele

Banana Protege o seu coração Atenua a tosse Fortalece os ossos Controla a pressão arterial Bloqueia a diarreia

Feijão Evita constipações Atenua a hemorroida Baixa o colesterol Previne o câncer Estabiliza o açúcar no sangue

Beterraba Controla a pressão arterial Previne o câncer Fortalece os ossos Protege o seu coração Ajuda a perder peso

Baga de Mirtilho Previne o câncer Protege o seu coração Estabiliza o açucar no sangue Estimula a memória Evita a Constipação

Brócolos Fortalece os Ossos Protege a Visão Previne o câncer Protege o seu coração Controla a pressão arterial

Couve Previne o câncer Evita a prisão ventre Ajuda a perder peso Protege o seu coração Atenua a hemorroida

Melão Protege a Visão Controla a pressão arterial Baixa o colesterol Previne o câncer Fortalece o sistema imunológico

Cenoura Protege a Visão Protege o seu coração Evita a prisão de ventre Previne o câncer Ajuda a perder peso

Couve-Flor Previne o câncer da Próstata Previne o câncer da Mama Fortalece os ossos Elimina escoreações Previne a doença do coração

Cereja Protege o seu Coração Previne o câncer Acaba com as insônias Tarda o envelhecimento Protege contra a doença de Alzheimer

Castanha Ajuda a perder peso Protege o seu coração Baixa o colesterol Previne o câncer Controla a pressão arterial

Pimentão picante Ajuda na digestão Suaviza as dores da garganta Remove abcessos Previne o câncer Fortalece o sistema imunológico

Figo Ajuda a perder peso Previne as tromboses AVC Baixa o colesterol Previne o câncer Controla a pressão arterial

Peixe Protege o seu coração Estimula a memória Protege o seu coração Previne o câncer Fortalece o sistema imunológico

Linho Ajuda a digestão Combate as diabetes Protege o seu coração Fortalece o cére br o Fortalece o sistema imunológico

Alho Baixa o colesterol Controla a pressão arterial Previne o câncer Mata bactérias Combate Fungos

Toranja Protege contra ataques cardíacos Promove a perda de peso Previne as tromboses AVC Previne o câncer da Próstata Baixa o colesterol

Uva Protege a Visão Previne pedra nos rins Previne o câncer Aumenta o fluxo de sangue Protege o seu coração

Chá Verde Previne o câncer Protege o seu coração Previne as tromboses AVC Ajuda a perder peso Mata bactérias

Mel Cura Feridas Ajuda a digestão Previne contra Úlceras Aumenta a energia Combate alergias

Limão Previne o câncer Protege o seu coração Controla a pressão arterial Suaviza a pele Elimina o escorbuto

Lima Previne o câncer Protege o seu coração Controla a pressão arterial Suaviza a pele Elimina o escorbuto

Manga Previne o câncer Estimula a memória Regula a tiroíde Ajuda na digestão Protege contra a doença de Alzheimer

Cogumelo Controla a pressão arterial Baixa o colesterol Mata bactérias Previne o câncer Fortalece os ossos

Aveia Baixa o colesterol Previne o câncer Combate a diabetes Evita constipação Suaviza a pele

Azeite doce Protege o seu coração Ajuda a perder peso Previne o câncer Combate a diabetes Suaviza a pele

Cebola Reduz risco de ataque cardíaco Previne o câncer Mata bactérias Baixa o colesterol Combate Fungos

Laranjas Fortalece o sistema imunológico Previne o câncer Protege o seu coração Favorece a respiração Elimina o escorbuto

Peras Evita a Constipação Previne o câncer Previne as tromboses AVC Ajuda a digestão

Ananás Fortalece os ossos Alivia a febre Ajuda a disgestão Bloqueia a diarreia

Ameixas Tarda o envelhecimento Evita Constipação Estimula a memória Baixa o colesterol Protege contra doença do coração

Arroz Protege o seu coração Combate a diabetes Previne pedra nos rins Previne o câncer Previne as tromboses AVC

Morango Previne o câncer Protege o seu coração Estimula a memória Acalma o stress

Batata doce Protege a sua Visão Levanta a disposição Combate o câncer Fortalece os ossos

Tomate Previne o câncer na próstata Previne o câncer Baixa o colesterol Protege o seu Coração

Nozes Baixa o colesterol Previne o câncer Estimula a memória Melhora a disposição Protege contra doenças do coração

Água Ajuda a perder peso Previne o câncer Previne pedra nos rins Suaviza a pele

Melancia Previne o câncer na próstata Promove a perda de peso Baixa o colesterol






quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Parem as mortes, não o financiamento



Por Unni Karunakara - Valor 19/01

Quando o Fundo Global de Combate à Aids, Tuberculose e Malária anunciou que iria cancelar sua nova rodada de financiamentos devido à escassez de recursos, eu senti como se tivessem dado um soco na minha cara - e na de milhares de profissionais de saúde de Médicos Sem Fronteiras (MSF).

A notícia de que os países doadores deixaram de lado seu compromisso com o Fundo Global veio no pior momento possível, após anos de trabalho duro e dos recentes avanços científicos, que trouxeram a esperança de frear essas três doenças, responsáveis pela morte de milhões de pessoas todos os anos.

Os programas de tratamento do MSF são financiados principalmente por doadores individuais privados. Os Ministérios da Saúde, no entanto, dependem do Fundo Global. Estimativas apontam que os financiamentos do Fundo contribuem para prevenir cerca de um milhão de mortes anuais.

Mas os países doadores deixaram o Fundo Global de lado. Alguns seguraram ou atrasaram as contribuições que haviam se comprometido a fazer. Outros não deram nada. Sem recursos para arcar com novos projetos até 2014, o Fundo teve que dizer a países mais afetados pelas doenças que eles não podem aumentar a oferta de tratamento contra HIV nos próximos três anos, a menos que as verbas já tenham sido aprovadas. Tuberculose e malária também vão sofrer com a falta de recursos. Isso quer dizer que os Ministérios da Saúde serão forçados a racionar a assistência médica e a tomar a difícil decisão de oferecer tratamento de menor qualidade, simplesmente porque o tratamento melhor custa mais caro. E isso em um momento em que avanços científicos poderiam ajudar a frear as três doenças.

Veja a aids, por exemplo. Há 10 anos, o MSF criou programas que desafiaram a concepção vigente até então de que o tratamento não podia ser oferecido em comunidades pobres. Em 2011, 30 anos após o início da epidemia, pesquisas e evidências científicas revelaram que o tratamento contra HIV pode ser uma ferramenta essencial também para frear a pandemia: uma pessoa que recebe o tratamento desde cedo tem 96% menos de chance de passar o vírus para outra. Hoje, entretanto, a maioria das pessoas que recebe o diagnóstico positivo continua sem tratamento.

Em relação à tuberculose, pela primeira vez o número de pessoas com a doença diminuiu - apesar de ainda ser extremamente alto para uma doença curável -, ainda que o número de variações mais letais e resistentes a medicamentos esteja aumentando. No caso da tuberculose, tratamento também é prevenção: quando as pessoas recebem tratamento, têm menos chance de espalhar a doença. Um avanço na tecnologia de diagnóstico melhorou nossa habilidade de determinar quem sofre de tuberculose resistente a medicamentos e, desse modo, oferecer o tratamento certo desde o início.

Quanto à malária, a combinação da oferta de mosquiteiros e de terapias mais eficazes de tratamento reduziu de forma significativa a incidência da doença. Um estudo clínico de 2010 mostrou que tratamentos melhores para variações mais severas da malária em crianças podem reduzir drasticamente a taxa de mortalidade. Porém, as crianças continuam sendo tratadas com quinino, um medicamento mais barato, mas muito menos eficaz. A doença continua matando centenas de milhares de pessoas todos os anos, a maioria crianças. Estimativas do MSF apontam que trocar o tratamento poderia salvar 200 mil vidas todos os anos - a um custo adicional de US$ 30 milhões.

O momento nunca foi tão propício à expansão da oferta de tratamento, sobretudo devido às novas evidências científicas. Mas de onde virão os financiamentos, agora que há uma placa na "porta" do Fundo Global que diz "fechado para novas propostas"?

Já está na hora de o comitê do Fundo Global deixar de ser passivo e alertar sobre a urgência desta situação. O comitê precisa organizar uma conferência de doadores em caráter emergencial nos próximos seis meses, para tentar arrecadar mais recursos. Os doadores que se comprometeram a oferecer recursos devem cumprir suas promessas. As potências econômicas emergentes, como China, Brasil e Índia, também precisam assumir sua responsabilidade. É inconcebível que o Fundo complete 10 anos em janeiro oferecendo amargo presente para o mundo: um retrocesso de três anos na luta contra essas doenças fatais.

Em meu trabalho com o MSF, vi pessoas morrerem de aids, tuberculose e malária. No entanto, recentemente, o que mais vi foram pessoas sobrevivendo a essas doenças. O Fundo Global é uma parte essencial do projeto de saúde mais ambicioso da história. Milhões de pessoas que hoje estão vivas são a prova desse sucesso. Nós não podemos perder a oportunidade de dar um golpe final nessas doenças.

Unni Karunakara é médico e presidente internacional de Médicos Sem Fronteiras (MSF), organização médico-humanitária independente presente em mais de 60 países. Em 2010, MSF ofereceu tratamento anti-HIV para mais de 180 mil pessoas em quase 20 países, tratou 30 mil pacientes com tuberculose e 1,6 milhão com malária.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Projeto cria Lei de Responsabilidade Sanitária



Por Caio Junqueira - Valor 04/01
De Brasília

O governo vai tomar a iniciativa de fazer avançar, neste ano, a tramitação de projeto que cria a Lei de Responsabilidade Sanitária, similar, na área de saúde, ao que a Lei de Responsabilidade Fiscal representa para as finanças públicas. A proposta delimita responsabilidades e relaciona punições à União, Estados, municípios e gestores que não cumprirem seus dispositivos.

O projeto de lei tramita desde 2007 na Câmara dos Deputados e já foi aprovado pelas comissões de Seguridade Social e do Trabalho, mas a pressão de secretários municipais e estaduais de saúde impediu que ele avançasse. O motivo eram os artigos que, segundo eles, "criminalizavam" agentes públicos que não cumprissem os termos da lei. A saída encontrada, por ora, foi a de flexibilizar a punição e estendê-la também aos entes federados, por meio da limitação de transferências de recursos.

Em geral, o projeto estabelece o cumprimento de metas tendo por base os chamados "contratos organizativos de ação pública" firmados entre União, Estados e municípios. Ali, estará previsto o montante de recursos que os gestores devem aplicar, anualmente, em ações e serviços públicos de saúde. Também consta a obrigatoriedade de comprovar essa aplicação e demonstrar o grau de execução das ações programadas, além de apresentar balanços financeiros, orçamentários, permitir a realização de auditorias e dar transparência às informações pela internet.

O problema, contudo, estava nos trechos em que determinava as punições a quem não cumprisse essas obrigações, assim intitulados "crimes de responsabilidade sanitária". São alguns deles: deixar de prestar de forma satisfatória os serviços básicos de saúde; transferir recursos da conta de saúde para outra conta; dar às verbas de saúde aplicação diversa da estabelecida em lei; deixar de executar ou interromper injustificadamente as ações previstas e prestar informações falsas no relatório de gestão.

O projeto diz que os gestores incorreriam em crime "por ação ou omissão", se "concorreu com culpa ou dolo para a sua prática, ou dela se beneficiou". Nesses termos, o recado que chegou ao Ministério da Saúde pelo Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems) e pelo Conselho Nacional de Secretários de Estado de Saúde (Conass) foi de que haveria resistência dos gestores.

Assim, o relator do substitutivo do projeto na Comissão de Finanças e Tributação, Rogério Carvalho (PT-SE), em negociações com o líder do governo no Senado e autor de projeto semelhante, Humberto Costa (PT-PE), ex-ministro da Saúde, decidiu se concentrar em algo mais consensual. "Havia uma resistência à punição ser exclusivamente para a pessoa física. Agora vamos avaliar o conjunto que define o objeto do contrato administrativo. A responsabilidade pode ser tanto do ente federado quanto do agente. Não existe uma escala de quem é punido primeiro, é tudo paralelo", afirma Carvalho, que foi secretário de Saúde em seu Estado entre 2003 e 2010.

Seu substitutivo será apresentado em fevereiro, tão logo comece o ano legislativo no Congresso. "Em caso de descumprimento das metas, o Estado ou município deixa de receber recursos de transferências e o agente passa a ter uma gestão supervisionada", afirma. A ideia é que ele chegue à Comissão de Constituição e Justiça da Casa ainda neste semestre e vá a plenário até o fim do ano. A participação de Costa nas negociações também se deve à tentativa de que o projeto chegue ao Senado sem a necessidade de alterações pelos parlamentares, para evitar que o projeto tenha que retornar à Câmara.

O projeto faz parte de um conjunto de iniciativas que o governo pretende tomar na área de saúde para tentar, aos poucos, superar os problemas de gestão, ali identificados, que mantêm o serviço entre os piores apontados pelos cidadãos em pesquisas de opinião.

Segundo o assessor especial do Ministério da Saúde, Fausto Pereira dos Santos, o esforço é para que o substitutivo seja de fato o mais próximo do que defende o governo e as entidades que reúnem os secretários de saúde de Estados e municípios. E que o importante é que haja a previsão de punições. "Para fazer um contrato organizativo de ação pública, tem que ter sanções. Um contrato sem penalidade não necessariamente vai ser cumprido."